Cá está entre minhas mãos, agora, um CD que acabei de comprar - 60 Anos de Bossa Nova: Claudette Soares & Alaíde Costa - e me leva de volta ao sempre. Não ao passado. Ao sempre, que para sempre caminha ao nosso lado. Um trecho de uma canção que nenhum de vocês jamais ouviu diz tudo: o sorriso da Claudette me compromete!
Ela talvez não se lembra de mim. Há muitos anos não nos encontramos. O tempo passa, mas ela - repito - permanece ao meu lado. No bar do Claridge, no João Sebastião Bar sentada no piano, me encantando. No Ela, Cravo e Canela, com meu amigo Pedrinho Mattar. Lá, aqui e ali a sandália dela furada de tanto sambar! Volto ao agora, síntese do presente e do passado. De repente um bando de amigos ao meu lado, aqui. Alaíde, que também não encontro há muitos anos e a última vez que nos vimos - terá mesmo sido ela? -, início dos anos 2000, não nos reconhecemos... O Dick Farney, que ouço em inúmeras interpretações, como se ainda estivesse por aqui, no Claridge. Além do Guerra, do Tião e do Zuza Homem de Mello, hoje meu confrade na Academia Paulista de Letras. As vozes da Claudette e da Alaíde sussurrando "Minha Saudade" no CD que acabei de comprar me enternecem. Em especial a ternura da Claudette para além/aquém do tempo e daqui. Encantando a mim, ao Nemércio Nogueira Santos e ao Eduardo Kugelmas, que se foi, mas ainda cá está, entre nós. Como diz o Ivan Lins - cujo pai, Geraldo Lins, era meu amigo -, a vida é maravilhosa!
Quem lê o que escrevo quinzenalmente aqui no Diário de Santa Maria observará que vivo repetindo essa sua afirmação! Estamos juntos novamente agora - a Claudette e todos nós - no presente e no passado, de mãos dadas. De repente o Zimbo Trio - que em 1964 consolidou o que eu vi nascer ao lado dela, no Claridge - integrado pelo Luís Chaves, o Amilton Godói e o Rubinho, meu contemporâneo na Faculdade de Direito. Ela não há de ter ideia do quanto me encanta quando ouço, no meu iPod, ela e o Dick cantando tudo aquilo que é amor! Dois CDs maravilhosos nos quais reencontro O que é amar, De você eu gosto e Somos dois! Em seguida, no A dona da bossa, gravado em 1964 pela Mocambo - ano terrível! -, assim como a sussurrar-me que não há porque chorar nem tristeza em nós dois, mas - lembrando outro amigo que se foi, o Pery Ribeiro - há uma onda que vai e vem e um sol de verão que é meu também!
É isso aí. Ainda que a sua voz esteja aqui, agora, e Claudette relembre o conselho do Cesar Mariano a quem quiser voltar, terá esquecido de que seu sorriso me compromete. Um dia destes - quem sabe? - de repente nos veremos!